segunda-feira, maio 26, 2008

No quarto dia de competição em Cannes, o grande destaque da mostra oficial foi o novo filme de Walter Salles, Linha de Passe, que se certa forma é um dos mais queridos pela crítica até o momento. O tema familiar visto em Central do Brasil (que estreou há dez anos atrás) se repete aqui através da figura de quatro irmãos de classe baixa que vivem com a mãe doméstica. Vinicius de Oliveira, protagonista do maior sucesso do diretor, volta interpretando um dos garotos que deseja ser jogador de futebol - o desejo de mudança de vida é observado nos personagens, tendo como pano de fundo a cidade de São Paulo que é um dos elementos fundamentais da trama. Ao lado da co-diretora Daniela Thomas, Salles conquistou a crítica por fugir dos temas observados na maioria das produções nacionais que fazem sucesso lá fora. Não chegou a ser um tremendo sucesso e nem recebeu tantos aplausos, mas para um filme que encerrou seu processo de montagem a um dia de ser exibido em Cannes, já é de grande valor o fato dos jornalistas concordarem que é o melhor trabalho do diretor desde Central do Brasil. Salles, que sempre prestigiou o Festival, pode sim ser considerado para um prêmio pelo júri.
“Sólido e envolvente, Linha de Passe é um complexo drama que oferece uma alternativa aos filmes pelo qual o país foi identificado anteriormente (incluindo Cidade de Deus e o vencedor do Festival de Berlim Tropa de Elite).” Jonathan Rimmey (Screen Daily)
◊ “No final, Walter Salles e Daniela recusam-se a ser otimistas ou pessimistas, mostrando apenas o quanto o caminho pode ser estreito para um brasileiro pobre e da periferia. E a imagem final é a melhor metáfora possível sobre um grande Brasil um pouco desgovernado, a procura de um pai ou uma noção de pátria que lhe de um rumo.” Thiago Stivaletti (UOL)
◊ “Em termos de cinema brasileiro, Linha de Passe representa o que melhor há atualmente, e internacionalmente encaixa-se nas especificações do cinema latino que tem marcado presença. Não é coincidência que Leonera, de Pablo Trapero, esteja tão perto em tom e estilo.” Kleber Mendonça Filho (Jornal do Commercio)
◊ “Colocando elementos sociais em pé de igualdade com a ficção, Linha de Passe conscientemente é uma alternativa para a tarifa recente de filmes brasileiros, abordando questões graves sem insistir em sua própria auto-importância.” Todd McCarthy (Variety)
◊ “Gostei muito de Linha de Passe. Em todas as suas entrevistas, Salles tem dito que este é um filme muito simples e pequeno, mas não achei uma coisa nem outra. Acho que há uma representação muito forte do país no longa.” Luiz Carlos Merten (Estadão)
◊ “Linha de Passe é mais um gol de placa do diretor de Central do Brasil. As histórias aparentemente diversas dos quatro irmãos da periferia de São Paulo, filhos de mãe solteira, se alternam com a cadência elegante de um bate-bola entre amigos.” Diego Assis (G1)
Cannes Watch: Mais complicado do que saber aquilo que o júri pensa sobre o filme, é analisar quais as reais chances de Linha de Passe na busca pela Palma de Ouro. O trabalho recebeu muitos elogios e Salles é um nome querido pelo Festival, portanto um prêmio de melhor roteiro seria mais do que possível - mas não duvido que o filme tenha capacidade para mais.

Por mais sucesso que o filme brasileiro fez em Cannes, nada foi suficiente para desviar as atenções da equipe de Vicky Cristina Barcelona, exibido fora de competição. Woody Allen, que compareceu ao Festival com as atrizes Penélope Cruz (vencedora do prêmio de melhor atriz por Volver há dois anos atrás) e Rebecca Hall, fez um trabalho impecável segundo alguns jornalistas e também diferente de tudo aquilo que já se viu em sua carreira. A questão é que a comédia com toques dramáticos em sua parte final dividiu opiniões, mas no geral parece que deu continuidade à ótima fase do diretor iniciada com Match Point. Emanuel Levy disse que é um prazer constatar que após muitos anos de espera, Allen finalmente fez um bom filme de entretenimento, no que talvez seja seu melhor trabalho desde Tiros na Broadway. Já Kleber Mendonça Filho diz em sua crítica que é certamente um dos exemplares mais genuinamente divertidos da vasta galeria de filmes realizados no esquema industrial desse autor que vem perdendo alguns gramas da sua credibilidade ao longo desta década com uma safra 2000 não muito memorável. Já Pedro Butcher, da Folha, disse que o olhar que Allen lança sobre Barcelona é simplesmente preguiçoso, com uma narração em off exagerada e algumas situações repetitivas. Essa divisão foi notada na sessão para imprensa, mas para a alegria da equipe, as poucas vaias foram abafadas pelos muitos aplausos que o filme recebeu.
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